Eu sou uma mãe relax. Digna de ser hippie, ou quase.
É meio assim, imaginem as seguintes cenas:
#CENA 1
Filho corre, e dá com a testa na quina da mesa, no chão, na
rua, na chuva, na fazenda. Que seja.
Mãe “normal”:
O coração dispara, ela vai tremendo e com um nó na garganta,
pega a criança abraça, e quase ou chora junto.
Eu:
Vou ver se não machucou mesmo e se constatado que não, dou
um beijinho, bato palmas, faço graça e acabou. Já aconteceu de eu ver Luca cair
da escadinha que dá pro quintal ( 3 degraus
irregulares), e não senti absolutamente nada. Minha preocupação na hora
é de sempre olhar ele, boca, nariz, testa, cabeça e fazer festa batendo palmas
pra ele desestressar do susto.
#CENA 2
Bateu um ventinho mais frio e você está na rua.
Mãe “normal”:
Apressa o passo pra chegar logo em casa e colocar um casaco,
gorro, e meias na cria.
Eu: Luca é calorento, gente!
#CENA 3
No meio da noite você percebe que a criança tá meio
quentinha, mas sem nenhum outro sintoma aparente.
Mãe “normal”:
Tem um pediatra de confiança, liga pra ele e informa a
situação já avisando que levará pra avaliação no outro dia, mede a temperatura
de 5 em 5 minutos, e óbvio, não dorme.
Eu:
(Luca não tem pediatra, quando necessário levamos ao posto
de saúde, que felizmente tem um bom pediatra, ou ao hospital infantil ) Meço a
temperatura e repito o mantra ao marido para tranquilizá-lo “ ter febre é bom,
isso mostra que o corpo da criança está saudável, se aquecendo para combater
algum intruso( vírus ou bactérias). Vamos dormir, daqui a pouco meço a
temperatura de novo, e caso a febre aumente mais a gente leva no pedi ok?”
#CENA 4
Você precisa passar o dia fora e levar a criança junto.
Mãe “normal”:
Se preocupa com a bolsa arrumada e principalmente com a
comidinha, leva a papinha/lanche em vasilhinhas, suquinho, iogurte, ou já sabe
o que comprar no supermercado mais próximo.
Eu:
Pega a bolsa, a água e vamo. Tem bastante leite pronto e na
temperatura ideal aqui no peito.
#CENA 5
A criança tá da cor do chão e deu sono, justo na hora do
banho.
Mãe “normal”:
Dá banho na criança semi acordada, manhosa e chorosa
querendo dormir, afinal ela tá da cor do chão e deve dormir limpinha.
Eu:
Vem, filhote, mama aqui, bora tirar uma soneca! Lenço
umedecido existe pra quê?
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Brincadeiras a parte, perceba que o mãe normal sempre está assim entre aspas, para não generalizar, pois é o que eu observo e ouço de outras
mães, e a outra, bem, essa sou eu. Já me senti culpada por ser assim, por não
me preocupar com o que eu ia oferecer a Luca na rua já que ele estava em fase
de introdução alimentar, já me senti culpada por não ficar acordada medindo a
temperatura e dormir, isso gente, culpada por dormir, porque mãe que é mãe fica acordada quando o filho está quentinho, já me senti a pior mãe por tê-lo deixado dormir sujo, e
acredite: me perguntei realmente se eu era “normal” por não sentir nada, nem
sequer o coração disparar ao vê-lo cair. E depois de tanto refletir, mais uma
vez concluí que do mesmo jeito que não somos mulheres iguais muito menos
ideais, jamais seremos mães do mesmo modus operandi. É uma auto avaliação
constante, um redimensionamento de práticas latente, e uma certeza, sou uma mãe
sem neuras.