(Dr. Nilo Gardin
Publicado no Periodicum Weleda nº 34 – Inverno de 2005)
Publicado no Periodicum Weleda nº 34 – Inverno de 2005)
A febre, definida como um aumento da temperatura do corpo acima de
37,2 ° C (medida na axila) é um evento que acompanha boa parte das
doenças inflamatórias, especialmente as infecções e, de modo mais
freqüente, na infância. Nos dois extremos da vida temos duas tendências
opostas: na infância predominam as doenças inflamatórias febris e, na
idade senil, as doenças escleróticas.
A febre na criança costuma trazer angústia aos pais, que sentem uma
necessidade grande de baixá-la imediatamente, temendo possíveis
conseqüências maléficas aos seus filhos. Isso está muito mais baseado em
desinformação do que propriamente em conhecimento científico.
Quando entendemos a febre de um ponto de vista mais ampliado, nossa
visão se modifica e também nossas atitudes diante desse fato.
A febre sempre existiu, acompanhando diversas doenças, como mecanismo
de defesa do organismo. Com o aumento da temperatura corpórea, nosso
sistema imunológico tem a possibilidade de agir mais rápida e
eficazmente. A produção e a ativação de diversas substâncias e células
de defesa aumentam na febre, o que facilita a resolução da inflamação.
Sabe-se, de longa data, que durante a febre o organismo humano consegue
produzir mais anticorpos contra vírus e bactérias. O aumento de apenas
1º C na temperatura corpórea consegue diminuir duas vezes a
multiplicação viral. No caso do resfriado, por exemplo, o vírus se
reproduz muito bem a 35º C, já a 38º se reproduz pouco e aos 40º não se
reproduz. Portanto, o melhor remédio para o resfriado é a febre! E o
pior remédio é o resfriamento – que pode acontecer após o uso de
diversos antitérmicos.
Durante nosso desenvolvimento, passamos por crises que precedem
períodos de mudanças. Assim é por volta dos 21 anos, quando buscamos
nossa verdadeira identidade no mundo, ou dos 28 anos quando nos
questionamos profundamente acerca de nossos reais talentos. Na infância,
dos 0 aos 7 anos de idade, o correspondente a essas “crises
biográficas” são as doenças febris. O calor traz a possibilidade daquilo
que nos é mais individual, chamado na medicina antroposófica de
organização do Eu, de intervir na constituição orgânica. Isso se acentua
na febre. O Eu precisa se expressar através do corpo físico, e a febre o
ajuda a tornar esse corpo herdado dos pais mais adequado à suas
próprias características individuais.
Observamos, na pessoa febril, um rebaixamento de seu nível de
consciência. Pensar e atuar fica mais difícil durante a febre (o corpo e
a mente pedem repouso). É como se a consciência (Eu) “descesse” da
cabeça até os órgãos internos e membros, para tomar posse daquilo que
foi herdado dos pais. Isso só se consegue através do calor corporal. Por
isso, se no início da febre as extremidades estiverem frias
(principalmente os pés) pode se fazer compressas mornas nas panturrilhas
e pés, ajudando o calor a chegar até lá. Desse modo não estaremos
colocando obstáculos ao desenvolvimento orgânico, mas sim o facilitando.
Depois da compressa, deve se colocar meias bem quentinhas e repousar.
Responder com febre durante uma doença é sinal de boa vitalidade, de
capacidade de reagir frente às ameaças externas. Após cada episódio de
febre o sistema imunológico, expressão de nossa individualidade, se
torna mais preparado para enfrentar as agressões externas, e a criança,
como um ser único, ganha uma batalha e conquista seu novo espaço.
Trata-se de um amadurecimento orgânico, vital para o amadurecimento
anímico que se segue.
Quando baixar
O bom senso sempre deve nos guiar. Em algumas situações é adequado
baixar a temperatura com antitérmicos. Mas são situações de exceção:
- quando a febre ultrapassa os 41º C;
- durante a gravidez (a febre poderia trazer problemas de formação ao feto);
- em pessoas com doenças cardíacas (ao aumentar a freqüência cardíaca, a febre pode sobrecarregar o coração de quem já teve um infarto ou tem angina);
- em doenças crônicas muito debilitantes (p. ex. tuberculose, hipertireoidismo);
- em doenças psiquiátricas (onde a febre pode desencadear determinados surtos);
- e em pessoas com epilepsia – quando a febre pode facilitar a ocorrência de novas crises.
- durante a gravidez (a febre poderia trazer problemas de formação ao feto);
- em pessoas com doenças cardíacas (ao aumentar a freqüência cardíaca, a febre pode sobrecarregar o coração de quem já teve um infarto ou tem angina);
- em doenças crônicas muito debilitantes (p. ex. tuberculose, hipertireoidismo);
- em doenças psiquiátricas (onde a febre pode desencadear determinados surtos);
- e em pessoas com epilepsia – quando a febre pode facilitar a ocorrência de novas crises.
Existem recursos naturais e medicamentos antroposóficos e
homeopáticos que ajudam o doente febril a modular a temperatura, ou
seja, evitam que ela exceda determinados limites, ao mesmo tempo em que
trazem bem estar e auxiliam a fase de recuperação. Antitérmicos
sintéticos e antibióticos precisam ser usados com muito critério e, os
últimos, somente sob prescrição médica.
Convulsão
Existe um “mito” que vale a pena abordar: as convulsões febris. Ao
contrário do que se teme, são episódios raros (3% das crianças), não
deixam seqüelas e dificilmente se repetem. As convulsões febris só
ocorrem na faixa etária entre 3 meses e 6 anos de idade. Por ser um
fenômeno isolado, uma convulsão não pode ser definida como epilepsia.
Ela não depende do grau de febre, isto é, não é mais comum de ocorrer
aos 40º do que aos 38º C. Além de raramente acontecer, a convulsão
febril cessa espontaneamente e geralmente não causa nenhum dano à
criança. A grande maioria das crianças com história de convulsão febril
nunca mais irá apresentar novo episódio durante todo o resto de sua
vida. Na próxima infecção, seu organismo terá “aprendido” a superar até
uma febre mais alta sem convulsões.
É importante saber que a febre não é uma doença em si, mas uma maneira de se defender, e que o grau de febre (baixa ou alta) não está relacionado à gravidade da doença. O estado geral da pessoa é mais importante.
Não se justifica a preocupação excessiva com a febre. Nosso esforço
deve ser o de saber sua causa e não simplesmente baixá-la, atrapalhando a
atuação do sistema imunológico.
Orientações práticas – O que fazer para ajudar
- Crianças têm febre mais alta e de instalação mais rápida do que os adultos.
- Durante a febre convém respeitar a falta de apetite da criança não a forçando a comer. Se houver perda de peso, ela recuperará rapidamente após a doença ir embora. Porém é muito importante que ela beba líquidos (água, chá e sucos), para repor as perdas aumentadas ocasionadas pela transpiração maior que acompanha a febre.
- Não dê banho frio na criança com febre, tampouco use compressas com álcool. Isso causa perda muito rápida de temperatura. O banho deve ser na temperatura do corpo (em torno de 37º C).
- Brinquedos e atividades que estimulam demasiadamente o pensamento, como vídeo game, computador, lição de matemática etc., devem ser evitados durante a febre. Há necessidade de repouso físico e mental.
- Consulte o médico para saber a verdadeira causa da febre. Se o tratamento é feito com um médico antroposófico ou homeopata, ele necessitará de informações que individualizem o caso, como por exemplo, se o aumento da temperatura foi súbito ou lento, se houve presença e características de sede, suor, sintomas mentais (estado de ânimo, ansiedade, desejo de companhia etc.), dentre outros.
- Após os episódios de febre o calor tem que ser mantido, especialmente nas extremidades (pés), agasalhando bem a criança e evitando perdas excessivas de calor.
- Durante a febre convém respeitar a falta de apetite da criança não a forçando a comer. Se houver perda de peso, ela recuperará rapidamente após a doença ir embora. Porém é muito importante que ela beba líquidos (água, chá e sucos), para repor as perdas aumentadas ocasionadas pela transpiração maior que acompanha a febre.
- Não dê banho frio na criança com febre, tampouco use compressas com álcool. Isso causa perda muito rápida de temperatura. O banho deve ser na temperatura do corpo (em torno de 37º C).
- Brinquedos e atividades que estimulam demasiadamente o pensamento, como vídeo game, computador, lição de matemática etc., devem ser evitados durante a febre. Há necessidade de repouso físico e mental.
- Consulte o médico para saber a verdadeira causa da febre. Se o tratamento é feito com um médico antroposófico ou homeopata, ele necessitará de informações que individualizem o caso, como por exemplo, se o aumento da temperatura foi súbito ou lento, se houve presença e características de sede, suor, sintomas mentais (estado de ânimo, ansiedade, desejo de companhia etc.), dentre outros.
- Após os episódios de febre o calor tem que ser mantido, especialmente nas extremidades (pés), agasalhando bem a criança e evitando perdas excessivas de calor.
Seguindo esse caminho, o organismo da criança terá aprendido algo
durante a doença febril, por esforço próprio. Note a expressão na face
de seu filho ou de sua filha após recuperar-se de uma doença febril,
onde a febre não foi suprimida, mas sim auxiliada de modo consciente e
natural. A criança está sutilmente diferente: um pouco menos parecida
com os pais, um pouco mais parecida com ela mesma. Você deu liberdade
para ela amadurecer.”
