Eu, Lulliane Lucena Vieira, 21 anos, sempre, digo SEMPRE
defendi a ideia de que “pé de galinha não mata pinto”. Sou a prova viva de que
uma surrinha de vez em quando “não faz mal a ninguém”. EU, não tenho traumas,
nem muito menos raiva dos meus pais, ou me tornei uma drogada, alcoólatra e
revoltada por que apanhei algumas (poucas) vezes. Assim como eu, meus irmãos(17
e 14 anos) também apanharam,inclusive de mim, e tem mesmo assim, uma conduta e
pensamentos totalmente diferente dos meus.
Até algum tempo atrás, afirmava que sim, bateria no meu
filho “caso ele merecesse”,caso o castigo não adiantasse, caso eu tivesse que
falar com ele mais de uma ,duas,três vezes.E acredite, mesmo com Luca tendo
menos de um ano, e de ter tirado ele 72427254162 vezes do rack, de ter falado
“não” firme e olhando nos olhos, eu já apelei pro tapinha na mão. Bobinha,
parei.Talvez fosse esse para mim, o modelo de educação ideal: primeiro
falar, conversar, castigar, privar, punir, e em último caso agredir.
Antes mesmo dessa “lei da palmada” entrar na pauta dos
brasileiros e tornar-se essa polêmica,
eu já havia mudado de opinião. Pensa comigo, eu odeio violência, não gosto
mesmo de brigas, agressões(tirando MMA vai..), e porque eu teria que fazer isso
com meu filho ? Será que surra adianta mesmo? Será que eu não estaria ensinando
e perpetuando que bater é normal? E dando brecha pra ele se achar no direito de
bater também?
Duas coisas me fizeram mudar de opinião e adotar uma
educação pautada na igualdade entre nós, pais e educadores, e filho. Igualdade
sem perder a autoridade. E quando digo autoridade não falo em autoritarismo...
Uma das minhas últimas leituras, foi o livro Quem ama Educa,
de Içami Tiba. Achei fantástica a maneira como ela aborda os assuntos(tirando o
fato de que ele não apoia a cama compartilhada,rsrs) , com linguagem simples,
objetiva, com exemplos presenciados por ele, e com a visão holística que vai
desde o papel da mulher e mãe(além do pai, avós e filhos) na sociedade,até mesmo como cuidar e educar
uma criança. Claro que não é um manual, afinal o seu modelo e arranjo de
família, sua cultura, seus valores e princípios podem ser diferentes dos meus,
e sendo assim o que funciona por aqui pode não funcionar aí e vice-versa.Mas
que o livro nos ensina muitas coisa válidas, ah isso ensina!
Uma das coisas que mais me marcou foi o fato dele afirmar que "hoje os castigos
não educam. O que educa são as consequências, transformar os erros em
aprendizados através de ações diretamente relacionadas aos erros”.
Pensa comigo: seu filho toda vez que brinca, desarruma todos
os brinquedos, e no final, deixa tudo espalhado e não quer guardar. O que você
faz?
Grita pra ele guardar logo, que não quer bagunça na casa,
que vai jogar, fora, blá blá blá...Deixa ele de castigo, sem fazer o que ele
mais gosta. Tipo – não vai assistir televisão até guardar os brinquedos! Ele
continua sem guardar... você tenta mais uma vez – não vai assistir televisão
durante x dias e nem vai mais passear no fim de semana! E já pro quarto!
Como ele vai aprender a ter cuidado e responsabilidade com
os próprios brinquedos se ele fica sem assistir televisão e trancado num
quarto? O que tem a ver uma coisa com outra?
Pensa comigo #2: seu filho toda vez que brinca, desarruma
todos os brinquedos, e no final, deixa tudo espalhado e não quer guardar. O que
você faz?
Chama ele pra uma conversa ,sem gritar, para que ele saiba
que quem está com a razão é você, e diz: filho olha quanto brinquedo você
tem.Você acha legal deixar todos eles aí espalhados, pra eu ou seu pai( ou quem
quer que more com vocês) guardar? Eles são seus, você deve cuidar.Vou contar
até 3, e se você não começar a guardar os brinquedos, a gente vai doar alguns
deles, afinal quem não cuida não tem por que ter.
Agora é com você.
Mantenha sua palavra.
Respire.
Faça o que tem que ser feito.
Ou dê um beijo e um
parabéns por ele ter entendido e obedecido ou tire o brinquedo, e se possível
leve o seu filho consigo quando for doar, de preferência a uma criança que realmente
necessite. (nada de fazer a linha má e dar o brinquedo pro priminho/amiguinho
que vive implicando, principalmente por causa dos brinquedos)
Agora, não vai dar certo, você não vai educar, se tirar o
brinquedo por algumas horas e ceder o mesmo num acesso de birra chorosa só
porque ele quer porque quer o brinquedo de volta. Muito menos devolver o
brinquedo porque depois de você tê-lo tomado, ele guardar os brinquedos todos
na esperança de obter o que você tirou de volta...
“Os pais e os filhos tem que aprender que a doação em si não
é castigo, ficar sem o brinquedo é a consequência educativa.”
Tá Lulli, captei a
mensagem, achei legal, mas e as outras situações? Tipo não querer tomar banho,
vou deixá-lo sem tomar banho? Vou obrigá-lo a tomar por mais tempo que o
normal?
Conversar é a saída.Use argumentos como “mamãe ama te beijar
, abraçar cheirosinho, tomado banho”. “Hoje papai vai te ensinar uma coisa
diferente enquanto você toma banho.” Pode ser uma música, uma brincadeira com
bolinhas de sabão, ou até mesmo uma historinha. Afinal até pra educar tem que
ser criativo. Mas não deixar de falar da importância de tomar banho, de ficar
cheiroso e limpinho, e não só porque mamãe gosta ou papai vai fazer algo
diferente.
Ah, Lulli, você diz isso porque ainda não passou por uma situação de querer arrancar os cabelos da cabeça, perder o controle e picar a mão no moleque! Eu te pergunto:quantas situações já passamos com nossos pais, e amigos, e companheiros/companheiras e resolvemos sem partir pra agressão? Precisa mesmo bater só porque é MEU filho? Eu bato na MINHA mãe? No MEU marido?
O que não dá é nunca, jamais, desistir de educar!
E a segunda coisa determinante para mudar o meu modo de
ver a educação familiar foi um pedaço de uma tirinha de
Quino, o pai da minha amada Mafalda.
Eu só me tornei mãe, por causa do meu filho.E isso aconteceu
no mesmo dia. Sem mais.
